
Uma rapariga de 17 anos alegadamente violada deslocou-se ao Santa Maria na noite de terça-feira mas teve de esperar até às 8h00 de quarta-feira para ser examinada - sem tomar banho, lavar os dentes ou beber água para não apagar possíveis vestígios, porque não havia peritos ao serviço.
A direcção clínica do Santa Maria garantiu hoje que a jovem de 17 anos alegadamente violada e que se dirigiu terça-feira à noite ao hospital recusou o apoio psicológico oferecido pela unidade de saúde lisboeta.
O Instituto Nacional de Medicina Legal reconheceu que em Agosto não realiza peritagens durante a noite, de segunda a quinta-feira, porque só tem três médicos disponíveis, enquanto o Santa Maria diz não efectuar este tipo de exames.
O caso foi denunciado pelo pai da menor, que alegou, simultaneamente, não ter sido prestado qualquer apoio psicológico à jovem.
Em declarações à agência Lusa, o Director do Departamento de Obstretícia/Ginecologia e Medicina Reprodutiva, Calhaz Jorge, garantiu que esse apoio psicológico foi oferecido à família, que esta o recusou e que a unidade continua à disposição para prestar esse apoio.
Daniel Sampaio, chefe do Serviço de Psiquiatria do hospital e coordenador da área da adolescência, realçou, porém, que muitas vezes as pessoas que acabaram de sofrer uma agressão se recusam a falar de imediato.
"Numa situação de crise aguda, muitas vezes a capacidade de resposta das pessoas está diminuída por estar numa situação de crise. Penso que seja uma das razões por que a jovem terá recusado o apoio psiquiátrico", explicou à Lusa.
A directora de Serviço de Psiquiatria, Luísa Figueira, justificou que, nos casos de trauma sexual, é habitualmente pedido o apoio do médico psiquiatra para uma primeira observação, para falar com a família e encaminhar as pessoas para uma consulta mais especializada, que neste casos se procederia num espaço de 24 horas.
"Muitas vezes, numa fase inicial e perante uma situação traumática, as pessoas podem recusar o apoio psiquiátrico, mas este está sempre disponível para os dias seguintes", assegurou a médica.
Questionado pela Lusa sobre o impacto de uma violação numa jovem de 17 anos, Daniel Sampaio explicou que depende "do traumatismo, da vulnerabilidade da vítima, do seu passado, dos seus mecanismos de defesa, da forma como reage à situação e do apoio que possa ter a nível médico e familiar".
Sobre o facto de a jovem ter esperado doze horas para ser observada pelo perito médico-legal, o psiquiatra reconheceu que são horas vividas com muita angústia, mas "ainda estamos a tempo de recuperar os danos que possam ter surgido".
Nesse sentido, Daniel Sampaio apelou à jovem para que recorra agora ao Serviço de Psiquiatria, que dispõe de um grupo dedicado a adolescentes, onde pode receber todo o apoio para minorar a situação traumática que viveu.
Fonte: Expresso
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