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terça-feira, 12 de maio de 2009

Gang do ATM lidera motins na Bela Vista


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O gang do multibanco (ATM) como existiu de início, com cerca de 40 elementos que, juntos, roubaram mais de 3 milhões de euros em raides criminosos pelo País, sofreu uma cisão, mas está na origem dos ataques à polícia no bairro da Bela Vista, em Setúbal. Esse grupo subdividiu-se em pequenos subgrupos que reconverteram a actividade criminosa, apostando também nos assaltos à mão armada a cafés e a supermercados. 

Apesar da mudança, operada após a prisão de ‘Quinito’ – um dos líderes –, estes jovens continuam a manter a mesma organização e têm sido eles a coordenar os ataques violentos. Procuram vingar as mortes de Antonino e ‘Seedorf’, dois membros do gang que desempenhavam as funções de condutores dos carros roubados para os assaltos. O primeiro abatido pela GNR no Algarve, há quinze dias, e o segundo pela PSP, há mais tempo, em Setúbal.

Na madrugada de ontem, que terminou com mais três viaturas e inúmeros caixotes do lixo incendiados, a PSP deteve três elementos, todos com menos de 20 anos. Tinham consigo droga, armas brancas e uma pistola. No entanto, dez outros jovens foram identificados. Foram todos levados para a PSP de Setúbal por suspeitas de participação em motim. Já na esquadra, a polícia confirma estar perante jovens referenciados de participação em vários dos ataques do gang do ATM.

A falta de provas acabou, no entanto, por fazer com que todos fossem libertados. O Ministério Público (MP) de Setúbal nem sequer os constituiu arguidos. O que não significa que tenha ainda desistido de os responsabilizar pelos violentos motins que rebentaram na quinta-feira.

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, esteve no comando da PSP de Setúbal no sábado à noite e, apurou o CM, acompanhou os preparativos de uma megaoperação que, no entanto, não chegou a acontecer. O intendente Magina da Silva, comandante da Unidade Especial de Polícia, coordenou um ataque ao bairro Azul para prender os instigadores da violência. No entanto, a operação planeada da PSP teve de ser abandonada. Pouco depois das 00h00, a notícia de mais fogos postos levou a polícia a responder, apenas para conter mais ataques. Com o Grupo de Operações Especiais (como o CM noticiou ontem) a integrar o contingente, mais de 150 operacionais tomaram de assalto o bairro Azul, tranquilizando a noite. A PSP promete que vai permanecer no bairro pelo tempo que for preciso.

POPULAÇÃO JÁ NADA 'FARTA' DOS TUMULTOS

Fábio, de 20 anos, está encostado a uma parede. São 04h00 quando o jovem e mais três amigos são interceptados pela polícia junto a um contentor a arder. São revistados e interrogados. A polícia confirma que já têm ficha policial, mas nenhum caso pendente. Nada fizeram, estavam só no sítio errado à hora errada e Fábio conta que viu 'quatro pessoas numa carrinha Audi escura a deitar fogo a um contentor'.

Os três amigos, que vivem ali desde sempre, aplaudem a acção policial: 'Nasci e vivi sempre aqui e estou farto disto. Acho bem que a polícia deite mão aos bandidos. Estamos de tal maneira habituados a estes tumultos que já nem nos sentimos inseguros, mas nunca vi tanta violência como nestes últimos dias', conta Fábio. Um grupo de jovens e o pároco da Bela Vista estão a divulgar uma procissão 'pela Paz' para terça-feira, às 21h00. As pessoas são convidadas a vestir uma t-shirt branca.

APEDREJAMENTOS LEVAM PSP A 'VARRER' BAIRRO

O extenso miradouro, que liga o bairro Azul da Bela Vista à avenida de Belo Horizonte, tem servido de plataforma de ataque aos grupos de desordeiros que respondem com pedras aos avanços da PSP. Pelas 16h30 de ontem, ininterruptos apedrejamentos à autoridade e a jornalistas levaram uma equipa de agentes do Corpo de Intervenção (CI) da PSP a entrar de rompante no bairro, numa rusga espontânea. Armados até aos dentes, os operacionais do CI palmilharam o bairro rua a rua, à semelhança do que tinham feito nas três noites anteriores. Várias pessoas foram revistadas e identificadas, e um adolescente foi mesmo conduzido à esquadra por não ter documentos.

Recorde-se que os incidentes na Bela Vista começaram na quinta-feira à tarde, quando um grupo de jovens se concentrou junto à esquadra para homenagear Antonino, morto na semana passada pela GNR após um assalto a uma caixa multibanco em Alvor, próximo de Portimão, no Algarve.

SECRETA VIGIA BAIRROS PERIGOSOS

O Serviço de Informações e Segurança (SIS) está atento a todas as movimentações de grupos referenciados e de pessoas cadastradas residentes nos bairros problemáticos da Área Metropolitana de Lisboa. As informações recolhidas são depois passadas às forças de segurança (PSP, GNR e Polícia Judiciária), que fazem depender destes dados muitas das investigações que abrem.

O cenário desta troca de informações são as reuniões do Sistema de Segurança Interna (SSI). O juiz Mário Mendes, secretário-geral deste órgão governamental, preside a estes encontros semanais, nos quais os agentes do SIS apresentam relatórios pormenorizados das acções encobertas que realizam nos bairros problemáticos.

A atenção do SIS está, apurou o CM, concentrada especialmente na Margem Sul do Tejo. Muito antes da explosão da violência que ainda se vive no bairro da Bela Vista, em Setúbal, já agentes infiltrados se tinham introduzido em locais como o Vale da Amoreira ou o bairro do Jamaica, ‘fichando’ todos os suspeitos de reiteradas actividades criminosas.

O receio de que a guerrilha urbana da Bela Vista sirva de rastilho a uma onda de violência antipolícias noutros bairros problemáticos leva a PSP, a GNR e a Polícia Judiciária a sistematizar esta informação, usando-a na preparação das operações que efectuam.

ZONAS PROBLEMÁTICAS DA MARGEM SUL

Segundo Torrão, Trafaria

Matadouro, Monte da Caparica

Pica-Pau, Monte da Caparica

Branco, Pragal

Quinta da Princesa, Cruz de Pau

Jamaica, Fogueteiro

Cucena, Paio Pires

Arrentela, Seixal

Vale da Amoreira, Baixa da Banheira

Palmeiras, Barreiro

Fonte da Prata, Alhos Vedros

Camarinha, Setúbal

Bela Vista, Setúbal 

SETÚBAL VIVE DIA-A-DIA MARCADO POR ASSALTOS

Os habitantes de Setúbal, cidade com cerca de cem mil pessoas, vivem o dia-a-dia marcados pelo medo e ansiedade face à vaga de assaltos. A violência não está circunscrita ao bairro da Bela Vista, confirmaram ao CM vários dos moradores que dizem sentir medo, mesmo no centro da cidade, pelo que depois das 18h00 poucos se aventuram a passear, por exemplo, na avenida Luísa Todi ou na praça do Bocage. 'Confesso que tenho medo, embora defenda que a violência que se verifica em Setúbal acaba por ser o espelho de todo o País', disse Maria Adelaide Alves, proprietária de um quiosque na praça do Bocage.

Perante a criminalidade acabou por mudar os hábitos, e explica: 'Não deixo nem tabaco, nem cartões de telemóvel e muito menos dinheiro no quiosque, e o que vou fazendo retiro ao longo do dia.' Mesmo assim, Adelaide já foi por várias vezes assaltada e numa ocasião foi-lhe apontada uma faca. Também Pedro Guerreiro, empregado de café, referiu haver assaltos todas as semanas. 

REACÇÕES

'À NOITE JÁ NÃO ME AVENTURO A SAIR À RUA' (Teresa Ramos, Professora)

'Tenho medo de andar na rua. A cidade fica deserta ao fim da tarde, mesmo em sítios de mais movimento, como o centro, pelo que à noite já não me aventuro a sair à rua.'

'CLIMA DE TENSÃO OBRIGA A PRUDÊNCIA REDOBRADA' (Filipe Castro, Técnico de Saúde)

'Nunca esteve tão perigoso viver em Setúbal. Há um clima de tensão permanente, que nada tem a ver com a crise laboral dos anos 80, que nos obriga a ter prudência redobrada.'

'SIMPLES IDA AO SUPERMERCADO É PERIGOSA' (Manuela Ribeiro, Professora)

'Penso que o desemprego que atinge tanta gente em Setúbal acaba por gerar a violência que está por toda a parte. Até uma simples ida ao supermercado é perigosa.'

'ROUBAM BANCOS, CAFÉS, OURIVESARIAS, TUDO' (Francisco Andrade, Professor) 

'Diariamente temos conhecimento de estabelecimentos que são assaltados. Um dia é um banco, depois um café, um restaurante, ourivesarias. Roubam tudo o que encontram.'

PORMENORES

BOMBEIROS APEDREJADOS

Pouco depois da 01h00, os Sapadores de Setúbal chegaram à Bela Vista para apagar os fogos postos. Um dos veículos foi recebido à pedrada. 'Tivemos de fugir, isto não pode ser, eles não queriam acertar no carro, queriam atingir-nos a nós', grita o responsável pelas equipas.

SÓ COM A PSP

A ordem de retirada foi dada: 'É arrumar tudo e ir embora. Não fazemos nada sem estar cá a polícia'. Minutos depois, a PSP toma o bairro Azul e os bombeiros podem fazer o seu trabalho.

CONTENÇÃO

José Manuel Anes, do Observatório da Segurança e Criminalidade, defendeu ontem contenção na actuação das polícias na Bela Vista, de forma a evitar que o fenómeno alastre emocionalmente à população residente. Lembrou que estes grupos 'controlam psicologicamente as pessoas do bairro através do medo'.

NOTAS

SÓCRATES: LOUVOR À POLÍCIA

'Nos Estados democráticos não se ataca a polícia', afirmou ontem o primeiro-ministro, sublinhando que a polícia está a fazer 'um grande trabalho' e a 'dar o seu melhor' na Bela Vista.

RUI PEREIRA: PREPARADOS

O ministro da Administração Interna disse em entrevista à Lusa, feita horas antes do início dos confrontos e ontem publicada, que 'Portugal está preparado para qualquer fenómeno criminal'.

SINDICATOS: EMPENHO E SACRIFÍCIO

Os sindicatos das polícias responderam ao ministro dizendo que se Portugal está preparado tal se deve 'ao empenho e sacrifício dos profissionais', não em equipamentos e estratégias.

CDS-PP: MAIS POLÍCIAS

Paulo Portas disse ontem que o PS é 'incompetente', o PSD 'mole' e a 'extrema esquerda lírica' em matéria de segurança. Defendeu mais polícias.

PSD: PROBLEMA NA AGENDA

O cabeça-de-lista do PSD às Europeias, Paulo Rangel, disse ontem que a criminalidade urbana, como na Bela Vista, deve ser colocada na agenda europeia.

'LEIS PENAIS SÃO PARAÍSO PARA OS BANDIDOS' (Paulo Portas, Presidente do CDS-PP)

Correio da Manhã – O que é preciso fazer para conter a onda de criminalidade?

Paulo Portas – É urgente recuperar o défice de policiamento que este governo irresponsavelmente criou. O distrito de Setúbal é um bom exemplo: só tem 1300 efectivos para proteger meio milhão de cidadãos.

– Os acontecimentos no bairro da Bela Vista são o espelho visível da crescente falta de segurança?

– O que se tem vindo a passar é muito sério e inadmissível. Não é normal a polícia ser atacada com cocktails molotov, com disparos ameaçadores e tudo isto perante a condescendência das leis e da organização dos tribunais.

– A legislação devia ser mais dura?

– Quando a criminalidade começou a aumentar e se tornou mais grave, o Parlamento, pela mão do PS e do PSD, votou leis penais que são um paraíso para bandidos.

– O que é possível fazer para alterar esta realidade?

– O CDS-PP propõe a realização de julgamentos em 48 horas, para os delinquentes que são apanhados em flagrante. As leis são feitas a pensar nos direitos dos arguidos, mas parece que toda a gente se esquece de pensar nas vítimas.


Fonte: Correio da Manhã


Link: http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?channelid=00000009-0000-0000-0000-000000000009&contentid=C6042994-24EC-41ED-B94C-29D8F4AD3ACA

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